08 outubro, 2005

no surprises

tenho os dedos a cheirar a café.
e o casal discreto que se passeava alegremente pelo hipermercado? e o rapaz de rosto e cabelos tão belos e pueris? eu VI. vi que o homem do casal me olhava curioso - como a concha de amor que os separa dos homens normais se quebra tão facilmente - e vi que um futuro sujo e aviltado se traçava para o rapaz - denunciara-me seu tão precoce duro olhar -

não vês que cheiro a café? afasta-te de mim
a vida é mais que junkies e bolachas molhadas em café
não? ...

há uma criança que não salta
uma criança que não corre
uma criança que não ri
uma criança que não
que não
que não
uma criança que tudo vê

há uma criança sentada nas escadas da minha casa, lê um livro e come uma sandes de fiambre, tem os cordões desapertados e os cabelos desordenados, sibila uma cançoneta de sua mãe,

deixou de ser uma criança
agora é a criança