27 novembro, 2004

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a porta da igreja aberta. o céu cinzento, o vento a bater na escadaria, rostos, olhares, ninguém vê, ninguém sabe, ninguém...
um cigarro na boca, o olhar distante. uma lágrima no rosto, um abraço vazio. e eu sinto a sua morte em volta do cenário. uma sombra que percorre cada lembrança, cada pedaço seu que persiste dentro deles. ela estava melhor, saiu das clínicas, já não andava em psiquiatras, entrou este ano na universidade. parecia melhor... duas pessoas sentadas nas escadas, olham-me, eles sabem que eu sei. comunicamos por silêncio e o que nos une é a sua morte. ontem de manhã o pai encontrou-a na cama, estava gelada. mas é melhor não falar disso. penetro-os com o olhar, a sua tristeza torna-se a minha, o meu vazio torna-se o deles, e só queremos fugir dali.
olham-me como se eu fosse ela. a ligação torna-se cada vez mais forte, preciso de fugir.
deixo os vidrinhos de vida para trás, e algo me diz que só fujo do inevitável.

não sei o nome dela. nunca a vi. a pedra cinzenta, sussurros no ar, deve ter tomado qualquer coisa...


e se eu te tivesse conhecido?

2 comentários:

Anónimo disse...

:( Se precisares de mim diz... Dark kiss. KLATUU.

Eduarda Sousa disse...

Um texto brilhante mais uma vez... que me tocou profundamente...