03 outubro, 2004

Através da fenda

Engana-me a maneira de ver a vida.
A pureza do mundo.
A beleza no olhar de alguém.
Ver para além da realidade cinzenta, um arco íris perdido que nunca existiu.
Talvez se fechar os olhos, seja levada pela corrente, lá bem para o fundo da multidão.

E o tempo abrande
para viver
sem respirar
o segundo
a seguir

O relógio a ultrapassar-me o passo. A vida a fugir-me à frente.
E quanto mais corro, mais me tudo escapa.

Sou uma marioneta nas mãos da sociedade. Presa. Prendem-se a vida, amordaçam-me a boca, tiram-me o tempo e eu deixo.
Eu, eu, eu deixo.

Mudar. Toda a gente tem tanto medo da mudança, de fazer algo.
E torcer o mundo e fazer dele uma tela de cores.
Falar.
Gritar.
Fazer.
Mudar. Mudar. Mudar.
Cego. O mundo está cego e eu também.
Escavar, vou chegar à superficie e sair daqui.


1 comentário:

Maria disse...

aqui na sombra a ler-te.
através da fenda, da fechadura desta porta sem divisão.

*